sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Soneto

Ouvi, senhora, o cântico sentido 
Do coração que geme e s´estertora 
N´ânsia letal que mata e que o devora 
E que tornou-o assim, triste e descrido. 

Ouvi, senhora, amei; de amor ferido, 
As minhas crenças que alentei outrora 
Rolam dispersas, pálidas agora, 
Desfeitas todas num guaiar dorido. 

E como a luz do sol vai-se apagando! 
E eu triste, triste pela vida afora, 
Eterno pegureiro caminhando, 

Revolvo as cinzas de passadas eras, 
Sombrio e mudo e glacial, senhora, 
Como um coveiro a sepultar quimeras!
 - Augusto dos Anjos -

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